Brasil terá coragem para liderar o diálogo sobre a experimentação animal, diz neurocientista

05/08/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:55am

5 de agosto de 2014 – “O Brasil é o país que terá coragem para liderar o diálogo sobre o uso de animais em experimentações científicas”. A afirmação é do neurocientista norte-americano Philip Low, responsável pela conferência que resultou na Declaração de Cambridge, o primeiro manifesto do mundo que apontou  a existência de evidências científicas suficientes para garantir que, assim como os seres humanos, os animais também possuem consciência.  O pesquisador  citou o episódio dos cães beagles ocorrido em outubro do ano passado. Na ocasião, cerca de 100 ativistas invadiram um laboratório, no interior de São Paulo, para resgatar animais utilizados em testes realizados pelo Instituto Royal.

"" Para uma platéia que lotou o auditório do III Congresso Brasileiro de Bioética e  Bem-estar Animal, realizado entre hoje e quinta-feira (7) em Curitiba, Low disse  acreditar que o caso dos beagles foi importante porque fez o país acordar para a  discussão. “Eu teria feito diferente. Ao invés de sair quebrando as coisas, eles (os  ativistas) deveriam lutar para mudar as leis para que os cientistas tenham novos  desafios”, afirmou o cientista em entrevista ao CFMV. Ele se refere, por exemplo,   à adoção de tecnologias não invasivas já existentes no mercado.

 Low, que trabalha no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) nos Estados  Unidos, disse ver o Brasil como um país aberto ao diálogo. “Vim da Califórnia  por  acreditar que algo muito importante está acontecendo neste país. Acho que a  maior parte dos cientistas quer ajudar. Se as leis permitirem que eles usem  ferramentas diferentes, eles usarão”, opina.

 O neurocientista afirma que, embora tenha sido de muita utilidade, a  experimentação animal apresenta diversas limitações. “Ela é feita por pessoas  que querem ajudar a sociedade. Mas, por outro lado, há a a indústria de alimentos que mata animais sem nenhuma razão”, afirma. “O primeiro passo é fazer com que as pesquisas com os animais melhorem para que eles não sejam submetidos a sofrimentos. Acredito que, se fizermos os sacrifícios e os investimentos corretos, a experimentação animal poderá ser muito mais focada, limitada e ética”, avalia..

Com a Declaração de Cambridge original em mãos, Phip Low leu para o público presente o manifesto publicado em 7 de julho de 2012 e assinado por outros 25 pesquisadores de renome. Baseado em comprovações científicas, o documento atesta que, assim como os seres humanos,  animais como as aves, os mamíferos e certos invertebrados  também possuem estruturas neurológicas que geram consciência. "A Declaração de Cambridge mudou muita coisa. Sendo o  primeiro manifesto oficial no mundo, ela tornou possível a argumentação de muitos cientistas que já defendiam evidências sobre a consciência animal, mas tinham medo de falar", explica o neurocientista. 

Presente na palestra, o integrante da Comissão de Ética, Bioética e Bem-estar Animal (Cebea), do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o médico veterinário e PhD dr. Marcelo Teixeira afirma que a Declaração de Cambridge é baseada em fatos irrefutáveis. “Ela não é baseada em teorias ou filosofias. A Declaração é ciência. E se a ciência mostra que há uma relação direta de similaridade entre a reação dos seres humanos e dos animais, isso tem que ser levado em consideração”, opina.

*Legenda: Na foto, o neurocientista e matemático norte-americano dr. Philip Low segura a Declaração de Cambridge, manifesto sobre a consciência animal publicado em julho de 2012 (Foto: Renata Ramalho, CFMV)

.Assessoria de Comunicação do CFMV

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